Vasco da Gama foi um navegador, filho mais famoso de Sines, um município com cerca de 15 mil habitantes na região do Alentejo, distrito de Setúbal, no litoral sul de Portugal. O seu nome batizou o clube de futebol da cidade, fundado em 1966, e também uma instituição centenária, com milhões de torcedores no Brasil. Desde agosto de 2010, os dois clubes se tornaram parceiros e o trabalho em conjunto começa a render frutos. O Vasco de Sines lidera o campeonato do distrito e pode figurar, na próxima temporada, na Segunda Divisão nacional, como explicou o seu presidente, Carlos Alberto Pereira.
A parceria funciona da seguinte forma: o Vasco do Rio, desde 2010, tem inchado a sua base de forma a forçar uma sobra de atletas. Para comportar o crescimento das categorias, o clube está em vias de fechar um novo centro de treinamento para sua base, em Maricá (RJ). Este excedente de jogadores que não for aproveitado, segue para Portugal. A coordenação da base do Vasco e desse intercâmbio está a cargo de Clóvis de Oliveira, que já mudou a rotina na Europa: "Passamos a incluir treinos em tempo integral e estamos sempre em contato para melhorar o trabalho. É uma relação a longo prazo", disse. No momento, são seis atletas enviados. O zagueiro Hebert foi o último a chegar, em fevereiro, mas o maior destaque até o momento é o goleiro Gott, de 20 anos, apelidado pelo jornal português “A Bola” como o “Gigante de Sines”, em função de sua altura: 1,99m. Com a parceria, será criada uma empresa nos moldes da legislação portuguesa e o Vasco do Rio passará a ter controle financeiro, técnico e de marketing sobre o Vasco de Sines. O assunto está em fase de aprovação no Conselho Deliberativo de São Januário.
“Vamos ampliar a nossa base, por isso o novo CT. Vou gerar muito jogador e espalhar nos Vascos pelo mundo. Mas o jogador só sai para as outras filiais se o daqui não aproveitar. O Vasco será sócio desse clube de Portugal, mas o Vasco daqui é a célula-mãe. A decisão vai partir sempre daqui. Eventualmente posso querer colocar um jogador lá por decisão estratégica, mas essa decisão será tomada no Vasco do Brasil”, explicou o vice de finanças do Vasco, Nelson Rocha.
O primeiro contato com os portugueses foi feito pelo empresário Olavo Monteiro de Carvalho. Seguiram-se visitas com a presença de Rocha e do presidente Roberto Dinamite. O Vasco de Sines, hoje, joga com o mesmo uniforme do homônimo carioca, com o mesmo patrocinador exibido na camisa, a Eletrobrás. A primeira meta é formar um clube forte no Sul de Portugal, já que os grandes clubes do país se concentram no Norte.
“Queremos criar raízes em Portugal. Eu poderia ter feito parceria com um time da Primeira Divisão, mas não era esse o objetivo. Fomos à cidade onde nasceu Vasco da Gama, tem o maior porto de águas profundas da Europa, o maior PIB per capta do país, e lá tem um clube com esse nome. Precisava que o Vasco, em Portugal, tivesse torcida. Não é um projeto meramente desportivo, é estratégico, envolve marketing, finanças”, disse Nelson Rocha, explicando que, como a fornecedora Penalty só tinha, no momento que foi feita a parceria, camisas com a estampa da Eletrobrás, o time de Sines por ora usa a marca do mesmo patrocinador, mas uma verba independente já está em negociação conduzida pelos cariocas.
Clube carioca quer nova casa em Faro: o Estádio Algarve
Também em tratativa está uma possível nova casa para o Vasco de Sines mandar seus jogos. O imponente Estádio Algarve, com capacidade para mais de 30 mil torcedores (maior e mais moderno do que São Janiário), construído para a Euro 2004 em Faro, é o alvo dos dirigentes cariocas. Atualmente, o estádio recebe jogos do Portimonense SC e do Louletano DC, entre outros eventos. “Ainda não está fechado, mas é um objetivo. São cerca de dois milhões de torcedores sem um clube de expressão no Sul de Portugal, então queremos percorrer as cidades da região. O objetivo, em relação aos atletas, é não vendermos mais jogadores diretamente para outros clubes da Europa. Com o projeto consolidado, os atletas primeiro vão para o Vasco de Sines e depois poderão ser negociados, até por valores superiores”, completou Rocha.
Carlos Alberto Pereira, presidente do clube português, detalhou os objetivos imediatos: “Está sendo discutida a extinção da Terceira Divisão no país. Com isso, se formos campeões distritais, poderemos disputar, já na próxima temporada, a Segunda Divisão. A meta é disputar o campeonato principal de Portugal em três ou quatro anos”, afirmou o dirigente, embasado por Rocha. O vice de finanças do clube carioca adiantou que, quando isso acontecer, os portugueses já deverão ter investimento independente para montagem de um time capaz de disputar o título português.
Plano de expansão inclui China, Índia e Estados Unidos
De acordo com Nelson Rocha, o plano é mais ambicioso do que fazer um clube português crescer. O objetivo final é fazer o Vasco ter a maior torcida do mundo em 20 anos. Para isso, a estratégia é entrar em mercados de grande população, mas onde o futebol é pouco popular. As próximas sedes estão escolhidas: Macau, na China; Goa, na Índia (onde há uma cidade chamada Vasco da Gama); e Boston, nos Estados Unidos. O dirigente explica:
“Na Primeira Divisão de Portugal, seguiremos a linha do navegador português e ganharemos o mundo, aí sim o projeto atingirá o seu objetivo. Vamos para países com grande população, mas aonde o futebol ainda não esteja difundido. Queremos formar torcedores, leia-se consumidores, em Macao, na China, de colonização portuguesa; Goa, na Índia, pelo mesmo motivo, e há um pequeno clube lá chamado Vasco da Gama; e para os Estados Unidos, em Boston, em função das comunidades brasileira e portuguesas que lá vivem. O projeto é em 20 anos o Vasco ser o time de maior torcida no mundo. Os quatro locais podem gerar entre US$ 60 milhões a US$ 80 milhões de patrocínio. Não temos esse número ainda, mas a meta é atingir isso”, concluiu.
Retirado de http://esporte.ig.com.br